Por Vitor Gomes
Neste dia de finados de 2019 se
completam os 175 anos de um episódio que marcou o surgimento, no século XIX, de
um dos primeiros bandos de cangaceiros da história: Os irmãos Morais. O Pe.
Manuel Caetano de Morais de Palmeira dos Índios-AL, foi o primeiro vigário
colado e nono pároco da freguesia, empossado por ato do então príncipe regente
dom João VI, em 13 de outubro de 1811. Na época da proclamação da Independência
do Brasil e início do Império, exercia o cargo de juiz de paz do então arraial
de Palmeira dos Índios.
O coronel José Daniel Carneiro da
Cunha (conhecido como Coronel Daniel das Flecheiras) era auxiliado por seu
grupo de parentela, das famílias Holanda, Veiga, Canuto e Pereira, moradores em
Gravatá-Açu e Caldeirões de Baixo. Daniel das Flecheiras fazia oposição ao Pe.
Morais, proprietário dos sítios Lagoa do Moreira, Riacho Panelas e Rio
Coruripe, desde a primeira eleição que levou o padre Morais à Assembleia
Provincial como deputado a rivalidade politica aumentou. Os ânimos entre as
partes se acirraram após o assassinato do juiz de direito da comarca de Anadia
doutor Fonseca Lessa, adversário politico
do Pe. Morais.
Por este tempo, revezavam-se no
cenário político do Império do Brasil apenas dois partidos: o Conservador e o
Liberal; em Alagoas os liberais (do Pe. Morais) eram chamados de “lisos” e os
conservadores (do Coronel Daniel) eram chamados de “cabeludos”. A historiografia de Alagoas
chama de “Guerra entre Lisos e Cabeludos” e uma série de conflitos, ocorridos
em 1844, que se espalharam pela província depois que os “Cabeludos” trasladaram
a sede governamental de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (atual cidade de
Marechal Deodoro) para Maceió.
Não obstante ter permanecido na
Assembléia como deputado, o padre Morais não possuía mais o prestígio de
outrora, pois o seu partido havia sido derrotado na eleição para o conselho da
vila da Palmeira, o padre Morais partiu para o Sítio Taquari, povoação de
origem quilombola em Bom Conselho-PE, esta povoação precedeu a atual Rainha
Isabel, lá o Padre tinha amigos e parentes, para arregimentar correligionários
para o enfrentamento direto com os adversários.
No dia 2 de novembro de 1844, o subdelegado da então vila
de Palmeira dos Índios Antônio das Chagas Pinto partiu com duzentos homens para
prender em Taquari o Pe. Morais, pela acusação de ter mandado matar o Doutor
Lessa. O grupo do subdelegado era dividido
em dois grupos: trinta deles seguiram o subdelegado pela estrada principal, e
os outros cento e setenta foram espalhados por outros caminhos que também davam
acesso ao povoado.
O primeiro grupo cercou a igreja onde estava o padre, que
recebeu voz de prisão após rezar a missa de finados. Resistindo, o padre Morais
tentou fazer com que houvesse tempo para que seus aliados viessem em seu
socorro. Primeiro, pediu para tomar o desjejum matinal antes de ser levado
preso para a vila. Foi atendido, mas ninguém veio socorrê-lo. Depois, pediu
para que a tropa aguardasse a vinda de seu cavalo, que deveria estar sendo
trazido.
O subdelegado entendeu que o padre estava tentando
prolongar a sua hora de partida, certamente a espera de amigos para libertá-lo
da humilhante prisão. Na hora do viaja ou não viaja, chegaram, finalmente, os
170 homens da volante policial, que palmilhavam atalhos pouco usados por almocreves
e viajantes. Estabeleceu-se grande tiroteio entre a força policial e os amigos
do Padre.
A batalha resultou nas mortes do padre José Caetano de
Morais, do tenente-coronel Tavares Bastos, do subdelegado Chagas Pinto, dos
guardas da tropa nacional José Roberto e Francisco José Bezerra, além de Adrião
Melo, Antônio Barbosa, José Jucá – todos estes de Caldeirões – e de dezenas de
moradores do termo de Palmeira dos Índios, e dezesseis pessoas ficaram feridas.
Após a batalha a povoação do Taquari ficou bastante destruída, sendo fundada
outra povoação nas mediações do quilombo Escorrego chamada de Taquari Novo, que
se enfraqueceu fomentando a criação do Distrito de Princesa Isabel (Rainha
Isabel).
José e Manoel de Araújo Morais, dois dos oito filhos que o
padre teve com uma concubina, chamada Maria Clementina, lideraram um grupo (Cangaceiros)
que passou a atacar aqueles que eram considerados responsáveis pela morte do
pai. Por sete anos, os “irmãos Morais” espalharam terror por toda a região, invadiram várias cidades como vingança dentre
elas Quebrangulo, posteriormente os irmãos morais foram mortos, desmantelando
assim seu grupo de cangaço.
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